Brancorexia: entenda a obsessão por dentes brancos e os riscos à saúde bucal

Brancorexia: entenda a obsessão por dentes brancos e os riscos à saúde bucal

A busca por um sorriso perfeitamente branco, incentivada pelas redes sociais e pelos padrões estéticos atuais, tem levado muitas pessoas a um comportamento perigoso: a brancorexia. Mais do que uma preocupação estética, o problema pode causar sérios danos à saúde bucal e está relacionado a um transtorno psicológico.

Segundo a professora Cássia Lorena, do curso de Odontologia da Faci Wyden, a brancorexia é a busca obsessiva por dentes extremamente brancos, ignorando a coloração natural saudável dos dentes. “Está ligada ao Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), no qual o paciente desenvolve uma percepção distorcida da própria aparência. No caso da brancorexia, há uma não conformação com a coloração natural dos dentes, gerando uma busca obsessiva por uma tonalidade não natural”, explica.

Essa insatisfação constante leva à realização repetitiva de clareamentos dentais, muitas vezes sem orientação profissional, com o objetivo de alcançar um branco artificial que não corresponde à realidade clínica.

O uso frequente e descontrolado de clareadores pode comprometer a saúde bucal de várias formas. Entre os principais riscos estão: erosão ácida do esmalte dentário, deixando os dentes mais frágeis e vulneráveis; hipersensibilidade dentária, que causa dor ao consumir alimentos quentes, frios ou doces; danos irreversíveis à polpa dentária, podendo levar a pulpalgias e neuroses; irritação das gengivas e descamação da mucosa oral, especialmente com produtos caseiros e sem prescrição.

A brancorexia é considerada um transtorno psicológico e deve ser tratada como tal. A especialista destaca que o dentista tem papel fundamental na identificação dos sintomas e no acolhimento humanizado do paciente. “Ao observar no paciente sinais que apontem uma obsessão com o ‘branco perfeito’, é importante acolher e orientar sobre os limites clínicos do clareamento, além de conscientizar o paciente quanto à necessidade de tratamento com equipe multiprofissional, incluindo apoio psicológico”, afirma.

Ela reforça que o dentista tem um papel essencial na educação estética e na saúde mental dos pacientes. Isso inclui orientar sobre os limites naturais do clareamento, desmistificar falsas promessas e evitar danos à saúde bucal.

De acordo com a literatura odontológica, o clareamento dental é seguro quando feito com orientação profissional. O dentista deve analisar o motivo das manchas, o tipo de dente e a técnica mais adequada para cada caso. “Os riscos e efeitos colaterais podem ser minimizados e controlados quando conhecidos. É de suma importância que se conheça os motivos do manchamento dentário para que se possa determinar a melhor técnica, material clareador e quantidade de sessões indicadas para o sucesso do tratamento”, alerta Cássia.

Filtros e edições em fotos criam um padrão irreal de estética, onde dentes extremamente brancos são vistos como sinônimo de sucesso, saúde e beleza. Isso gera distorção da percepção da própria imagem, fazendo com que dentes saudáveis pareçam “amarelados” e “defeituosos” aos olhos de quem consome esse tipo de conteúdo. “Essa distorção cognitiva leva à insatisfação crônica e ao desejo compulsivo por clareamento”, pontua a professora.

Além disso, a desinformação também contribui para o aumento da brancorexia. Muitas pessoas acreditam, erroneamente, que todos podem fazer clareamento, quando na verdade ele é contraindicado para gestantes, lactantes, pessoas com cáries, restaurações defeituosas ou próteses. Outro mito bastante comum é acreditar que o efeito do clareamento é permanente, quando na verdade sua durabilidade varia entre seis meses e dois anos, dependendo de fatores como alimentação, higiene e hábitos como o tabagismo.

Há também a falsa ideia de que produtos caseiros são seguros, quando na verdade eles podem causar sérios danos, como irritação gengival, sensibilidade e desgaste do esmalte. Outro equívoco é pensar que quanto mais sessões de clareamento forem feitas, mais brancos ficarão os dentes. Cada dente tem um limite biológico para clareamento, e ultrapassá-lo pode gerar danos irreversíveis. Além disso, nem toda mancha pode ser removida com clareamento. O procedimento é mais eficaz para manchas extrínsecas, que se acumulam na superfície externa dos dentes devido ao consumo de alimentos, bebidas ou tabaco. Já as manchas intrínsecas, que se formam na dentina, camada interna dos dentes, geralmente estão associadas a fatores que ocorrem durante a formação dental e, nesses casos, o clareamento tem eficácia limitada.

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