No Dia da Consciência Negra, artista visual aponta caminhos para valorização da arte negra e amazônica no mercado
Ceci Bandeira reflete sobre o papel do colecionismo ético na valorização de artistas negros e amazônicos, destacando a importância da visibilidade e do apoio contínuo à produção racializada no mercado de arte
“Antes de qualquer coisa, eu penso no meu território. Sempre prefiro consumir artistas da Amazônia, mas também adquiro trabalhos de artistas negros e indígenas de outras regiões. Preciso priorizar os artistas da minha região, justamente porque isso não é a regra do mercado de arte”, questiona Ceci Bandeira, artista visual e curadoria independente paraense. Ela destaca que, apesar dos avanços nos últimos anos, os artistas negros e indígenas continuam sendo os menos consumidos no mercado de arte.
De acordo com o Art Collector Insights 2023, pesquisa anual que analisa o comportamento dos colecionadores de arte, 64% dos colecionadores mais jovens preferem artistas emergentes, enquanto apenas 11% dos colecionadores mais velhos compartilham dessa preferência. Para Ceci, a valorização desses artistas não pode ser algo temporário. “Não podemos tratar o trabalho de artistas negros e indígenas da Amazônia como algo sazonal. Podemos ajudar a construir um modelo mais digno e perene”, afirmou.
Como começar uma coleção e apoiar artistas racializados
Ceci orienta que a primeira etapa é procurar conhecer os artistas, destacando a diversidade da produção artística local. “Com certeza você encontrará algo que te encantará”, pontuou. Ela sugere começar sua coleção a partir de múltiplos – obras produzidas em série – uma forma mais acessível de adquirir trabalhos de diferentes artistas. Para quem mora em Belém, ela recomenda visitar lugares como a loja Maxcolor e a Galeria Kamarakó, que representam artistas locais. Além disso, feiras de arte e as redes sociais dos artistas se mostram alternativas eficazes para quem deseja iniciar sua coleção.
Colecionismo ético e transformador
Ceci compartilhou sua trajetória como colecionadora, que começou de maneira despretensiosa, voltada à decoração, e evoluiu para práticas que priorizam a emancipação dos artistas em vez do lucro. Jovem Patrona do MASP, ela ressalta que sua vivência a inspira a colaborar com a produção artística de forma mais ética e democrática. “Eu acredito no poder transformador da arte e da educação, e que essa transformação se faz por meio de oportunidades e relações dignas de trabalho”, afirmou.
O consumo consciente no mercado de arte
Adquirir obras diretamente de artistas ou por meio de instituições indicadas por eles é uma forma, segundo Ceci, de garantir que os artistas recebam uma compensação justa. Ela observa que o engajamento com o consumo consciente de arte também fortalece atividades culturais gratuitas e amplia a visibilidade dos artistas negros e indígenas. No contexto do Dia da Consciência Negra, essa prática ganha relevância como uma forma de resistência e valorização de vozes frequentemente marginalizadas no mercado de arte.
Para Ceci, a arte é um poderoso agente de transformação social, e os jovens colecionadores têm um papel crucial ao impulsionar a carreira de artistas racializados e amazônicos. “A visibilidade, hoje em dia, é um fator importante para impulsionar a carreira de muitos artistas”, finalizou.
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