Uso de medicamentos psiquiátricos durante a gestação exige avaliação cuidadosa e acompanhamento médico constante
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% das gestantes em países de baixa e média renda apresentam algum tipo de transtorno mental, sendo a depressão o mais comum. No Brasil, estudos apontam que até 25% das mulheres grávidas apresentam sintomas significativos de transtornos mentais.
Com a crescente prevalência de quadros como depressão, ansiedade e transtorno bipolar entre mulheres em idade fértil, o uso de medicamentos psiquiátricos durante a gestação tem se tornado uma questão cada vez mais relevante para profissionais de saúde e gestantes. Especialistas alertam que a interrupção abrupta desses medicamentos pode ser tão ou mais prejudicial do que os possíveis efeitos colaterais sobre o bebê.
Para Anne Caroline, faxineira e mãe atípica, foi muito assustador descobrir a gravidez. “Ser mãe sempre foi um sonho, mas quando aconteceu, eu ainda tomava o medicamento psiquiátrico e fiquei com muito medo. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: será que meu bebê vai nascer bem?”, relata.
Ela relatou que teve dúvidas sobre continuar o tratamento e chegou a suspender os medicamentos por conta própria. “Achei que estava fazendo o melhor pelo meu filho, mas logo comecei a me sentir muito mal. Vieram crises de ansiedade fortes, pensamentos ruins… Foi um período muito difícil”, relembra.
Anne só retomou o tratamento para depressão após o nascimento do bebê. “Eu estava exausta física e emocionalmente. Só então percebi que precisava estar bem para cuidar dele. Procurar ajuda foi fundamental”, conta.
Para a psiquiatra Daniele Boulhosa, interromper o tratamento sem avaliação médica pode desencadear crises graves, como episódios depressivos, surtos psicóticos ou até ideação suicida. “Isso representa um risco direto não apenas para a gestante, mas também para o desenvolvimento fetal e o vínculo mãe-bebê”, afirma a médica.
O tratamento durante a gravidez não deve seguir um padrão único. “O papel do profissional, aliado ao trabalho conjunto com obstetras e outros médicos, é essencial para garantir o bem-estar da mãe sem comprometer o desenvolvimento do bebê. Cada caso precisa ser analisado com cuidado. Há medicamentos com perfis mais seguros durante a gestação, e o acompanhamento multiprofissional é indispensável”, complementa Daniele.
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